segunda-feira, 25 de setembro de 2017





Algo em Arnóia me remete a Henry David Thoreau  - mas isso é outra conversa. Passeie por lá uma vez. Ali, ouvindo as histórias, só poderia começar pelo Señor de Arnóia - eterno alcaide, velhote unha-dura. Está internado mesmo ao lado, numas termas. Toda a zona é termal, aliás, do senhor de Arnoia morava uma fama terrível, franquista, colado ao lugar - hoje parece que já não. Sabe-se no entanto que onde ele reinou é onde sua carcaça será devolvida à terra. 

82.


A musa manda dizer que está com amor
Que se confirma em essência
E que bem se tolera sem sonido
Mesmo quando nos estilhaça
O pescoço parte em réguas as malas que nos carrega
Bem pesadas contra as cordas
Saltamos por cima, senão 
Saltassemos, a diva escreverá pior
Afim de pularmos ainda mais
Não está aqui para menos
Nem panos, nem produtos do polimento, ora toma, tens aí uma faca
É bom que a agarres, guarda-a
Não te tomes demasiado
Nem faças caso por todos aqueles que te chamam tudo

Como é tão absurdo tê-la visto a sofrer tanto aquele dia
A chorar desenhava ainda
Através das lágrimas que sobravam
E quem se arriscasse a chegar ao canto mais obscuro daquele restaurante
Disfarçado de festa para começar
Era de partir a cidade inteira

domingo, 24 de setembro de 2017

Além-Governos, Além-Fronteiras




O fluxo de cidadáns dun lado e doutro da liña denota a consolidación dun espazo común, compartido. Por exemplo, e como se aporta neste estudo, en 2012 ao redor de 22.797 cidadáns portugueses residían en Galicia. "Os inmigrantes portugueses son agora a maior nacionalidade estranxeira presente en Galicia", o cal "está a contribuír a un proceso de mestizaxe transnacional", salienta o experto da USC.
O certo é que, como sinala o profesor, "a transferencia transnacional de poboacións de Portugal a Galicia foi maior que a calquera outra Comunidade Autónoma española". En 2012, o 22,3% de todos os portugueses en España residían en Galicia, a maior porcentaxe en todo o Estado español. 
Esta comunidade transnacional galego-portuguesa é, para Rodríguez Campos, un bo exemplo de "comunidade de cidadáns que queren afirmar as súas solidariedades sociais e políticas sobre as súas denominacións étnicas e nacionais", ou dito doutro xeito, "un movemento que opera máis aló dos confíns dunha nación-estado, mobilizando etnias nacionais". Con todo, o profesor da USC pregúntase se sería posible crear instrumentos efectivos de solidariedade máis aló da organización dos Estados portugués e español. 
Ao fluxo de persoas hai que sumar o de mercadorías. Por exemplo, xa no ano 2004 o 23,2% das exportacións do Norte de Portugal a España foron destinadas a Galicia, e en 2005 o noso país importou o 57% do leite de Portugal exportado a España, "o que demostra a alta preferencia polos produtos portugueses no mercado galego", sinala Rodríguez Campos. Tamén en 2004, o valor de mercado enteiro entre Galicia e o Norte de Portugal foi similar ao que mantiveron os portugueses con Italia, Gran Bretaña ou os Países Baixos.
"Non hai dúbida sobre o aumento do tamaño do mercado entre Galicia e o Norte de Portugal tras a desaparición das fronteiras"
Os sectores de exportación máis importantes de Galicia ao Norte de Portugal foron a agricultura, a pesca e a alimentación, seguidos polo sector téxtil. Galicia exportou o 33,9% da súa produción de alimentos ao país veciño en 2011, o 35% da súa produción pesqueira en 2001, o 71% da súa produción de carne en 2005 e o 22% da súa produción téxtil en 2010. E Portugal foi o principal provedor de Galicia, co 57% da súa importación, segundo os datos expostos neste estudo.
Esta transnacionalidade no comercio "non é tan prominente para outras fronteiras hispano-portuguesas, como Andalucía, Estremadura ou Castela", compara Rodríguez Campos, quen aporta máis datos que demostran a súa tese: o 50,3% do tráfico viario entre España e Portugal a partir de 2004 pasa pola fronteira galego-portuguesa e o 87,8% deste tráfico componse de turistas e o resto, de traballadores; 
(...)
Aí sitúanse, entre outros elementos integradores, as afinidades lingüísticas, xa que "son tamén moi importantes, porque promoveron raíces culturais na comunidade étnica". "Cada día, os códigos lingüísticos da lingua galega son cada vez máis parecidos aos do portugués. Os portugueses do norte son definidos como 'galegos' polos sureños debido ao maior número de afinidades lingüísticas coa lingua galega que teñen", expón Rodríguez Campos.
"O nacionalismo galego evolucionou desde a idea da independencia ata o concepto de participación nun federalismo cosmopolita"
Nese proceso de integración tamén xogaron un papel fundamental "as vellas reivindicacións de intelectuais e artistas galegos e portugueses que, no século XIX, trataron de expresar a necesidade de formar unha comunidade transnacional a través das afinidades étnicas entre ambos os pobos", e cuxo legado tomou o movemento nacionalista galego.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017





Entrados no táxi: Silence! Silêncio, piano, orquestra, s'il vous plait
Eu é que agradeço. O dinheiro nunca é problema, disse, Stephanie não tem muito, eu menos tenho, e até não termos nada, o dinheiro não pode ser problema. Olha pela janela.  Passaste a Assemblée Nationale, tardará pouco terás a Torre Eiffel ao lado antes de te enfiares num túnel, depois os estúdios da tv, pontes do metro aéreo. Mas em Paris tudo é sério, magnânimo, não tem nada de uma cidade brinquedo, como tantas, como agora. Tenho a liberdade de ser árduo e austero, e assim sentar-me num café sem ninguém ter de me dizer não penses nisso. Sim, poder ser grave à vontade.E assim sempre ir contando: quero que hoje a minha missão seja escrever sobre hoje. 




Até que parámos em Cudillero. Exótico lugar, que na primeira foto remete um pouco a Porto Brandão. Mas pouco a ver, a não ser, talvez, por ali se comer muito peixe. Contem com a identidade asturniana. As cidrerias - foi a primeira vez na vida que vi uma cidraria, e que bebi a cidra autêntica - tão próxima da Somersby como o ténis do ciclismo. Primeiro estranha-se, depois estranha-se menos, vamo-nos habituando ao seu feitio particular e um pouco mal encarado, mas é interessante, e não traz nada de químicos e aditivos, é autêntica que dói, prefiro assim. A cidra veio depois do passeio pelas ruelas estreitas, com algo de mourisco, mas apenas, no tom traduzido no contíguo dos espaços. Verdade é que estamos perto de Gijón, não de Mértola, nada ali alguma vez foi mouro. Esse orgulho emerso em souvenirs de Astúrias Pátria Querida só poderia desembocar no melhor da nossa paragem em Cudillero: as favas! A famosa Fabada Astúriana! E estávamos em pleno calor de Junho. A não perdoar pelo Inverno. 




quinta-feira, 21 de setembro de 2017

81.



PARIS, I'M SORRY
O ruído da máquina de lavar roupa parece só me dizer de uma maneira: you sorry, you sorry... Sim, tem sido isto nos últimos dias, nos próximos dias Todos menos eu Todos menos nós Todos You sorry, you sorry, you sorry... Porra! E pelos vistos arrasta a escrita... Depois é o ruído da centrifugadora Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu... Tarda o silêncio Até ao regresso da modinha You sorry, you sorry... Algo se passa aqui entre mim e Paris E não é nada de um amor-ódio antigo É outra coisa, espécie de combinado Amor com amor-tédio Só que depois acontecem os acidentes Do magnetismo dos cartiers, das luzes! Aqui tudo electrifica até ao medo Dez anos e um chip mais que o corpo Viverás aqui, vinha escrito Claro que não será possível decifrar tudo Morreria num curto circuito Também pode ser mentira, gozo, boutade inconsciente Cada coisa traz seu tempo, trouxe-trará É como esta máquina a lavar-me a roupa suja
Com pressa, compassa 
You sorry, you sorry, you sorry... 





Asako Hayashi

terça-feira, 19 de setembro de 2017




A Corunheza, lá em cima. Cá em baixo era a primeira vez na vida em que eu pedia um café e me chegava um capuccino. Mau. Não suporto natas, mas lá consegui suportar a chávena larga até ao fim. Só para café tenho de pedir café solo, disseram-me mais tarde. A propósito, o café na Coruñeza é Delta. E o café na Galiza é óptimo. Só não o tentem em Castilla-La Mancha. Também imagino que já devem ter uma ideia. 




Foi uma surpresa apanhar com aquela estátua. Por outro lado não, tão normal que era estar ali aquela cabeça. No entanto, não há muito tempo, foi reclamada pela cidade, ia ser retirada, era de uma exposição temporária, mas já fazia parte da normalidade. Anormal era ela não estar lá, à cabeça, a cabeça. Pelos dias fora.  

80.



BCN

Liga-me o dia de ontem ao dia de hoje
Hora saída
Dor nos pés
Miró não
Tàpies
Sagrada família
Cabo Verde
Outra igreja 
A indicação
A pizza
Um bloco
Camp Nou em todos os postais
De Oriol Vilanova
E Esteban Estevo Estevão 
Esteve
Românico medieval apontado ao Pirinéu
Visigodos do antes
Seriedade na mesma 
O que agora ainda se lê em povos muito a cruz
O olhar de Deus frente
Ao encontro de Jordi Savall
Trazia a antena os auscultadores
Um cristo catalã medieval 
Onde Pasolini, claro, veio aqui beber à fonte mesma
Onde Eros 
Vistas absorve o antigo
Voo sobre esta Joana não a objectiva em concretude mas também
Assim não me perco, sigo o voo
Quase piso mais terra antiga 
Sant Andreu
1200 DC
Mestre de Taul La Lira de Esperia Galicia
Onde Brésson, claro, veio beber à fonte mesma
Lancelot cenário até que figura
Mais ainda para dentro de Deus sempre
Na intuída plenitude que vê sem efeitos
Cruz sem cruz nada é cruzado
Até à forma




Cidade branca? Também.

79.





COVADONGA


A respeito da época em que estamos
Contra os mais remotos que se perderam
Estamos abrigados agora
A ver nos museus os utensílios
Pelas idades geladas
Fossas cantábricas mil metros lá em baixo
Pelo oceano penhascos de água
Passeando o tempo
A falhar, a falhar, tentar era a única tradição
Porfiavam a desentender
De fora cercados por dentro
Tornando contra terrores de respeito
Cercados por fora
Foram o urro humano mais culto da História
Transpirados de pranto
Nas veias nas têmporas a medrar as artes da leitura animal
Dos temores ocultos
Abrigados nas covas 
Único respaldo úteriano de um pensamento que nos faz
Perguntas até hoje
Ou o prolongamento da rocha sobre a estalactite silêncio
Ao longe ao hoje 
Antepassado

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

78.


1.

Passará pronto. O retrato do dia suas leis - Não hão de ser débeis e efémeras.

Observa o fazer
Enquanto se criam
Reflexos de Deus

2.

Mas claro que nada
dizes tu
O tudo ao nada

Ou a ciência!

3.

Viajar a fala ao núcleo
Do silêncio a cada livro 

O universo a respiração a viagem precisa
Sem linha nem roteiro.

4.

A primeira leitura foi antes escrita.

5.

Mágicos somos os mágicos
Folgazões, reis leões direito a tudo
Até mesmo a doirar esta gaiola que nos desterra.


6.

A alegria perfura paredes, abre a janela ao limite encontra-te
A ler esta carta.


77.



SILÊNCIO


Não podes ver desse ângulo 

Não tens a mira pronta
Nem os motores para a viagem
Nada ainda fabricado está

Sol

Tranquilo

Nem sequer faz vento

Não te apures
Não torças o advérbio adversário

Teu mundo é teu corpo
É inevitável estares agora aqui
Ao perto fora das salas 
Onde se tacteiam ladrões