segunda-feira, 27 de abril de 2015

É Mentira...

É mentira, era um homem, o cantor era o Zé Cabra
Os actores tinham sido substituídos
Por uma câmara combustível gasolina Super 8

Bebida de um conto Bukowski adentro de Um Homem que era 
Um lavador de pratos mas acima de tudo era Um Homem que dizia 
Que era um homem de verdade.

Charles Bukowski talvez mandasse bugiar o 
Zé Cabra
Quando este, num silêncio pós-Mahler, se pôs a cantar acima do personagem
George, o lavador de pratos, que cantava seu opus de verdade
Charles Bukowski nem sequer estaria a pensar nalguma daquelas assistentes
Quando o Zé Cabra ainda pensou levá-las para o hotel
Enfim, deu por si a insistir sabe-se lá bem como e levou tampa
À discussão Bukowski até fez bem em interceder
Que ao menos ouvissem Tom Waits
Que o  filme pois então lá ganharia um prémio 
Perdido num ano sem recordações
Tudo tão mal sintonizado que também daqui ainda não sabemos
Se era Primavera, se Outono, se estava quente, se era frio
Se ali chovia era em mono que Zé Cabra desafinava
E cantava «É MentiraÉ Mentira...», e o George, de raiva, salivava
Não queria ser o copinho de leite que ela tinha deixado
E que era um homem de verdade e também sabia cantar
Haviam de ouvir a sua voz...
Bukowski, enfim, lá teve outra vez de interceder
Pois a cada Zé Cabra, o seu Zé Cabra...