segunda-feira, 6 de maio de 2013

Medicina


Quando o desequilíbrio, como o nosso, é devido a uma situação estrutural do próprio tecido produtivo, a gente pode fazer os sacrifícios financeiros que quiser que os problemas vão continuar lá. E os sacrifícios não vão servir para nada. Foi esse o grande erro da Comissão Europeia, que tinha a responsabilidade de conhecer a situação. Costumo dar este exemplo: se os Estados Unidos tivessem encarado a situação na Europa após a Segunda Guerra Mundial como a Comissão Europeia encara esta crise, ainda hoje a Europa estava destruída.  
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A questão fundamental é que a Alemanha ganhou um poder que não tinha com o Tratado de Maastricht e quer uma Europa à sua medida, o que significa ter uma moeda forte. Se os países do Sul não aguentam, pior para eles. E vai-se-lhes dando umas migalhas para eles não saírem, mas isso não é sustentável.
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O grande drama vai ser quando as pessoas se aperceberem de que, feitos os sacrifícios todos, não estamos melhor. Um dos momentos que tornarão visível a situação vai ser voltarmos aos mercados. Depois do regresso triunfante aos mercados teremos no dia seguinte mais austeridade em cima. E quando as pessoas se aperceberem de que todos os sacrifícios pedidos foram em vão vai haver um tumulto sério no país. Será provavelmente o fim desta política. Não sei o que virá depois.
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Nós podemos financiar-nos a juros mais baixos, mas isso dá apenas a sustentação na agonia porque continuamos a aumentar o desemprego e a recessão. O problema é que o país não tem sustentação demográfica assim: se saem 110 mil jovens por ano, como o ano passado, ao fim de uma década são um milhão e tal – e como é que o país vai aguentar, com o envelhecimento que tem à partida, esta autêntica sangria? Não vai. Nos anos 60 saiu um milhão e tal de pessoas activas, mas o país era jovem, a estrutura demográfica não tinha nada a ver com a que temos hoje. A sustentabilidade demográfica do país, que é a condição básica para o país existir, ficará totalmente em causa se esta política durar dez anos.

E mais, mais pedra para partir

(via Declínio e Queda)