sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

As Férias do Sr. Ulrich

Ouvido hoje no autocarro, pelas repetições e atropelos da matraca tento reproduzir o melhor possível: "Isto a gente anda aqui de férias. Um dia partimos e foi só uma passagem. Foi Ele que nos pôs cá e quando quiser nos leva, mas a verdade é que estamos aqui de férias e é mesmo assim. Uns passam-nas muito mal, outros doentes, outros trabalham  muito. Depois para outros, bem para outros as férias são uma maravilha, um passeio, esses têm sorte, passam a vida a ser servidos. Mas é mesmo assim: estamos mesmo todos aqui de férias,  que quem comanda e quem manda é Ele. Quando Ele decide, as férias acabam, de resto é mesmo assim: somos todos iguais, uns e outros estamos aqui de passagem, uns melhores que outros mas não interessa." Era manifesto que falava para o espectáculo, para ouvirmos todos. Eu por mim fiquei esclarecido. Obrigado minha senhora, não sei o seu nome, mas agradeço-lhe na mesma. É que estava na dúvida acerca daquele amoral catolicismo que se vê em filmes de Máfia em que os padrinhos se confessam no Vaticano. Aquele mesmo catolicismo de um tal de Fernando Ulrich, sabe? Todos sabemos que isto são só umas feriazinhas, os que não são católicos ainda vêm para aqui com lições de moral. Uns são sem abrigo hoje mas os que têm umas ricas férias também podem ser sem abrigo amanhã, não é? Porque não? E na verdade, aqui entre nós, porque é que há gente que se queixa tanto. Gente que diz que não aguenta. Mas porquê, se isto é só uma passagem? Aquele senhor é que tem razão: ai aguenta, aguenta! Se até aqueles que têm umas férias assim para o piorzinho aguentam! Mais uma vez agradecido minha senhora. É que estava na dúvida acerca do catolicismo desse tal banqueiro Ulrich e afinal já percebi. Deve ser como o da senhora: todos de férias, todos de passagem. Hoje aqui e amanhã ali, não é verdade?