sábado, 26 de maio de 2012

Cãozinho cãozinho



No jantar do Conselho Europeu de quarta-feira, Passos Coelho - contrariando Monti, Hollande, Rajoy, Juncker, o FMI e a OCDE, entre muitos outros líderes e instituições - apoiou Angela Merkel contra as euro-obrigações. O escândalo racional da chanceler alemã é, assim, apoiado pelo mistério irracional do comportamento do primeiro-ministro português. A lógica da subserviência tem na decência, o seu limite moral, e no interesse nacional, o seu absoluto limite político. Passos Coelho está a rasgar todos os limites.

Tirado de aqui

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Aforismo 1


Escreve para te conheceres, conhece para te escreveres. 

Forever Young




Parando em Neil Young não se pensa em frases como aquela de Philip Roth: "old age is a massacre". Neil Young parece não o sentir, permanece jovem, no espirito, na essência, na frescura, na capacidade de experimentar coisas novas. E pondo-se sempre e constantemente em causa, como fazia quando começou, e como continuou a fazer em mais de 40 anos de carreira. Agora com aquelas doses de acrescento que só o saber, a consistência e a substancia de muita experiência acumulada sabem trazer. Se calhar é por isso que figuras como Neil Young, Bob Dylan, Bruce Springsteen ou Tom Waits envelhecem tão bem. Mesmo que quando fossem novos já soassem melhor e mais velhos do que a idade que tinham. 

Anderson Polga



Algumas vezes o sangue quente estupidifica-me a memória e põe-me um bocado idiota, acontece quando perco como perdi no Domingo. Depois, de cabeça fria, ou me sinto ridículo ou reduzo-me à minha insignificância. Como hoje, quando vejo partir um capitão que serviu nove anos o Sporting. Nove anos. Que queria ficar, pois é homem de lealdades, só jogou aqui e no Grémio. Como eu também sou homem de lealdades tenho o máximo respeito por alguém que sai como Polga, dignificado e homenageado entre os seus pares e com uma porta sempre aberta para algum dia. Nada ao alcance dos maçãs podres desta vida, gente que cospe na mais justa gratidão em nome da  mais próxima vantagem. Muito obrigado, Anderson Polga!

domingo, 20 de maio de 2012

É simples




Parabéns Académica!

Venham as adendas:

1 - Godinho, marca lá as eleições e mostra lá os investidores, que é desta. Bruno de Carvalho a Presidente. Sem afinanços, recontagens às 4 da madrugada, Paulos Pereiras Cristovãos e bancos espiritos santos. 

2 - Pensar que há adeptos que queriam Polga mais um ano. Até onde não chega o masoquismo humano! Mas depois lá falou, o Polga. Lembrou-me Romário a falar de Pelé: calado és um poeta. Polga, vai para longe. Se o mereces. 

3 - Ao menos o Relvas não ganhou. Ver se o homem morre de frustração, já que não de outra maneira. 

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Borges purifica




A tarefa da arte é transformar o que nos acontece em símbolos."


"Um poeta não descansa, trabalha continuamente, quando sonha também.”

O barroco é um exercício de vaidade, uma súplica.”

"Prefiro as palavras habituais às palavras assombrosas."

"Tentar ser arcaícos, modernos, contemporâneos? Para quê? Já o somos." 


(tradução assim um pouco a mandar para o livre)

quinta-feira, 17 de maio de 2012

NO BULLSHIT



De alguém como Paulo Pinto Mascarenhas não me surpreende nada. Henrique Raposo a falar em "tugas da choldra" talvez estranhe mais. Digo talvez porque há coisas na direita portuguesa que de tão previsíveis fazem desconfiar até o mais crédulo de todos os crédulos. Raposo  já chamou a "No Reservations" o melhor programa da nossa TV, parto do pressuposto que sabia - como tantas vezes sabe - do que escrevia e não estava a fazer bluff. É que é mesmo muito difícil, senão impossível, dar com "No Reservations" e perceber que o que está ali não são propriamente postais turísticos. Não querendo explicar o tão óbvio - e há tanto de tudo escarrapachado no You Tube - devo dizer que Lisboa até fica muitissimo bem na fotografia num muito bem conseguido episódio e que o elogio à beleza da cidade -  "They don't make cities like this!" -, à excelência da comida e ao lado genuíno e velho desta cidade milenar valem mais do que mil cosméticas para investidores que a nossa direita anda tanto a apregoar - fosse isto há um ano... - e que se há coisa que descreve a persona, a carreira, os programas e os livros de Anthony Bourdain é que o homem não tem contemplações no seu entusiasmo daquilo que gosta, não gosta, sente e pensa em relação a tudo isto aqui agora. Com custos para alguns vegetarianos, adeptos do politicamente correcto, operadores de "luxury travel", entre outros, aos quais parece que acabou de entrar alguma da direita portuguesa.

Deixemos-nos de tretas. Estivessem eles tão preocupados com o que Bourdain quis mostrar de Lisboa e teriam certamente  dado conta do sucesso esmagador dos Dead Combo pós "No Reservations" com três álbuns (três) no top 10 do iTunes conseguidos uma semana após o programa estar no ar. Se isto não é esmagador acerca do sucesso de um produto não sei bem o que é esmagador, nem o que é um sucesso, nem o que é um produto...O que eles queriam sei eu. O que não queriam também: António Lobo Antunes a falar da miséria e do desemprego, as verdades incómodas saídas ao longo de todo o programa acerca da austeridade, da crise, da Troika, da Grécia, com figuras dispares - agora baptizadas "Tugas da Choldra" - desde os Dead Combo aos cozinheiros Henrique Sá Pessoa, José Avillez, passando por Zé Diogo Quintela ou Tozé Brito, em conversas despretensiosas que dizem mais sobre nós do que todos os Prós & Contras que me lembro de ter visto. 
Também não queriam toda a conversa à volta das criminosas politicas da UE em relação à agricultura,  pescas, venda de alimentos...O lado taxativo de Bourdain - "that's the EU thinking", "you've got everything here", etc, etc -  deve lhes ter caído um pouco mal no seu quê de, vá-lá, instinto de rebelião. Que lá fora é muito cool, cá dentro, respeitinho...

Esperava-os mais inteligentes*. Ou ao menos que não se denunciassem daquela maneira. Pena que o programa esteja estupendo. Se não gostam embrulhem, engulam, aguentem, esperneiem. Façam o que muito bem entenderem. Poupem-nos é a um espectáculo que se chamo aqui de provinciano e  saloio é apenas para me poupar nos adjectivos. 


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Who is writing this stuff ?


De vez em quando o futebol encarrega-se de nos explicar como é tão óbvia e indiscutivelmente de longe o melhor e mais determinante desporto jamais inventado pelo homem. Não digo o mais emocionante, que o critério aí pode ser discutível, digo o mais dramático, épico, marcante, histórico, memorável. Em boa hora vi ontem o City.  Aqueles últimos 45 minutos, aqueles três minutos finais nos descontos em que nada faria adivinhar um golo, quanto mais dois. Os jogadores do Manchester United esperaram dois minutos pregados no rádio. Iam ser campeões. Não foram

sexta-feira, 11 de maio de 2012

segunda-feira, 7 de maio de 2012

As eleições

Quando se dizia que o Merkozy era irresponsável e perigoso muitos assobiavam para o lado. Agora, aos poucos, como ouvi ontem nas três televisões, já lá vão dizendo que "somos todos a favor do crescimento, quem não é? ". Como se, enfim, o austeritarismo não fosse sobretudo ideológico. Agora, a extrema direita em França e os Nazis na Grécia fazem parte da equação, não apenas do problema. Aqueles pavoneios mútuos nas conferências europeias e a ideologia da austeridade da miséria a bem dos juros a render para o superavit alemão pedem especialistas em desminagem. Porque o terreno está minado, disso não hajam dúvidas, se ganhasse Sarkozy não sei como é que o desastre não seria para já. 

domingo, 6 de maio de 2012

É Na Terra Não é Na Lua


Começa com a aproximação de barco à ilha, ouve-se em conversa o realizador Gonçalo Tocha e o assistente Dídio Pestana, do som. São eles os dois que irão fazer um documentário sobre a ilha do Côrvo, não imaginam ao que vão e enumeram em voz-off os singulares dados estatísticos daquele lugar limite: 400 habitantes, habitada na ponta sul numa única vila, uma cratera (a caldeira), uma estrada, uma aerogare, um posto de bombeiros, uma escola, um restaurante, dois cafés, uma câmara municipal, um porto...Imaginamos o que sentem quando dizem ao que vão: "vamos filmar tudo o que conseguirmos". Nesse ponto já vemos o porto a a aproximar-se e um pouco acima a pequena Vila do Corvo. Filmaram-se 180 horas, da montagem ficaram três. 
Uma das primeiras pessoas a aparecer é a senhora Inês Inês, que ainda sabe fazer o gorro típico do baleeiro local, o Gorro do Corvino. O tecer do gorro com o nome próprio do realizador estampado vai-nos acompanhar durante o documentário, efeito da montagem, enquanto vamos vendo tudo o que há para mostrar naquelas três horas: os campos verdes e pastagens íngremes que acabam em declives a pique sobre o mar; a Caldeira, de cortar a respiração. O som directo ilustra toda aquela natureza em ebulição: o vento, a fúria daquele mar de meio do oceano face a uma ilha de 17 Km de comprimento e 12,5 Km de largura. Outro sinal de natureza quase em estado selvagem são diferentes sons de distintos pássaros , alguns de espécies tão raras que trazem histórias no bico. 
Há todo um passado que une esta comunidade tão  pequena como sólida, solidária e unida. Está-lhe nos genes. Está nas típicas fechaduras de madeira que não trancam totalmente. Todos se conhecem.  Óscar Nunes, ex-cabo do mar, fala da ilha como poucos, tinha um diário, um arquivo infindável que desapareceu não se sabe porquê. O Corvo não tem quase registos da sua história, a tradição oral é que marca e dá identidade à ilha. Sobretudo em  lendas antigas como a do Cavaleiro da Ilha ou da Nossa Senhora do Rosário que protegia os corvinos da ira dos invasores  desviando todos os tiros mandados pelos piratas e devolvendo-os multiplicados. Apesar disso, e como parece óbvio, as novas tecnologias trouxeram ao Corvo um brutal choque de realidade. O mundo subitamente acercou-se de um lugar onde a electricidade só surge em 1963 e o telefone durante os anos 70. Em que no Inverno havia meses em que ninguém entrava na ilha por causa do estado do mar. Hoje tudo se mistura, avionetas que chegam e partem, vitelos que nascem, porcos que se matam. E histórias. As antigas, à volta da caça às baleias. As de vida como a de um homem que queria apenas conhecer a ilha e que ficou  lá de vez, deixando mulher e filha; ou do solitário que quer ir para Angola porque a Europa já não dá nada, e porque um homem sem mulher naquela ilha dá em maluco.  Também as eleições ali são outra coisa, dividam-se 400 habitantes por listas, partidos e apoiantes e compreende-se porque tudo pára no Corvo eleitoral. Do mais, por um voto se resolve uma eleição. 
Para se filmar com um mínimo de fidelidade numa comunidade assim, só mesmo ganhando a confiança das gentes. Interagir, deixar as pessoas à vontade, deixar a experiência acontecer. Três horas de documentário acabam por tornar-se irrelevantes. Podiam ser duas, podiam ser seis. Não o sentimos. Estamos em terrenos nunca tentados e onde muito dificilmente se voltará a ir. Saímos do filme com vontade de conhecer o Corvo. Tornou-se nos familiar. O que é o maior e grande feito deste documentário.

sábado, 5 de maio de 2012

Gostar de Astrofísica

De vez em quando só estou para apagar as luz da sala, sentar-me no sofá e ligar-me numa daquelas séries sobre astrofísica que dão no Meo. É o meu planetário pessoal. Horas passadas Big Bang adentro, buracos negros, galáxias, supernovas, luas, planetas, nebulosas, matéria negra, quasares...Tem qualquer coisa de ritual, música para ouvidos agnósticos, Stephen Hawking a dizer que decifrada a chave da origem do Universo entraremos pela primeira vez na mente de Deus. Talvez o assombroso já esteja intuído na sorte que é estarmos aqui agora vivos e a ler e a escrever em blogues numa probabilidade muito menor que ganhar o euro-milhões. Desde a vitória da matéria sobre a anti-matéria, rés-vés, mais a velocidade da gravidade que está precisamente no ponto certo, passando pelo tamanho exacto do sol, ou a distância exacta que dele distamos, que não pode ser maior nem menor do que é, sob pena de nos aniquilarmos; até à massa do nosso planeta que bastava que fosse um pouco menos esturricar-nos iamos por falta de campo magnético para nos proteger dos raios e ventos solares. Isto falando do universal. Para o particular de sermos precisamente nós a estarmos aqui outro jogo se abre, com probabilidades tão ínfimas que duvido que haja alguma vez maneira de serem calculadas. O próprio Hawking fala numa razão de ser, numa prova pelas leis da física que o Universo foi criado do nada. De qualquer modo tudo isto está para além da nossa inteligência e capacidade de entendimento. Lembro-me de uma vez no Facebook ter lido directamente de São Paulo esta frase de Nelson Rodrigues:"Toda a coincidência é inteligente, não há coincidência burra". Brincar aos planetários serve ao menos para deslocar o quotidiano da pele. 

sexta-feira, 4 de maio de 2012