Ao
menos a guerra, como o racismo, proporciona escolhas morais claras.
Mesmo hoje, a maioria sabe o que pensa da acção militar ou do
preconceito racial. Mas no palco da política económica, os cidadãos
das democracias actuais aprenderam a ser demasiado modestos. Fomos
avisados de que isso são assuntos para capitalistas: que a economia
e as suas implicações políticas estão muito para além do
entendimento do homem ou mulher comuns – um ponto de vista
reforçado pela linguagem cada vez mais obscura e matemática da
disciplina.
É
improvável que muitos “leigos” questionem nessas matérias o
ministro das finanças, on secretário do Tesouro ou os seus
conselheiros especialistas. Se o fizessem, dir-lhes iam – à
maneira de um padre medieval a aconselhar o seu rebanho – que isso
são questões com as quais não precisam de se preocupar. A liturgia
deve ser entoada numa língua misteriosa, só acessível aos
iniciados. Para todos os demais, basta a fé.
Tony Judt, Um Tratado Sobre Os Nossos Actuais Descontentamentos, Edições 70 (2010)