quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A meia-luz do dia nublado


A luz não é o meio mais adequado para ver as coisas, mas para ver certas coisas. Agora, que está nublado, distingui da varanda um maior número de detalhes na paisagem do que nos dias de sol. Os dias soalheiros realçam determinados objectos em detrimento de outros, que deixam na sombra. A meia-luz do dia nublado põe todos no mesmo plano e tira da penumbra os esquecidos. Assim, certas inteligências medianas vêem o mundo com maior precisão e com maiores matizes do que as inteligências luminosas, que apenas vêem o essencial. 


Julio Ramón Ribeyro,  Prosas Apátridas, tradução de Tiago Szabo, Edições Ahab