domingo, 1 de julho de 2012

Roll and rock


Sem que sequer nos dêmos conta, há algo de primordial no modo como reagimos a uma pulsação. Toda a nossa existência é governada por um ritmo de setenta e duas batidas por minuto. Se o comboio teve um papel tão importante para os músicos de blues, não foi só por lhes permitir viajar do Delta até Detroit; foi sobretudo pelo ritmo das locomotivas e das próprias linhas: mudavas de linha, mudavas de ritmo. É como um eco do que se passa no interior do corpo humano. Mesmo que venha de uma máquina, de um comboio, a percepção que o teu corpo tem disso é de natureza musical. O corpo humano é capaz de sentir ritmos até onde eles não existem. Ouçam Mistery Train do Elvis Presley: um dos maiores temas de rock and roll de sempre, sem um único instrumento de percussão. O ritmo é apenas sugerido; o corpo trata do resto. Não é preciso torná-lo explícito. Julgo que as pessoas se enganam quando falam de rock and roll. Não tem nada a ver com rock, tem tudo a ver com roll.

Keith Richards (com James Fox), "Life (2010), Tradução José Luís Costa, Theoria (2011)