quinta-feira, 17 de maio de 2012

NO BULLSHIT



De alguém como Paulo Pinto Mascarenhas não me surpreende nada. Henrique Raposo a falar em "tugas da choldra" talvez estranhe mais. Digo talvez porque há coisas na direita portuguesa que de tão previsíveis fazem desconfiar até o mais crédulo de todos os crédulos. Raposo  já chamou a "No Reservations" o melhor programa da nossa TV, parto do pressuposto que sabia - como tantas vezes sabe - do que escrevia e não estava a fazer bluff. É que é mesmo muito difícil, senão impossível, dar com "No Reservations" e perceber que o que está ali não são propriamente postais turísticos. Não querendo explicar o tão óbvio - e há tanto de tudo escarrapachado no You Tube - devo dizer que Lisboa até fica muitissimo bem na fotografia num muito bem conseguido episódio e que o elogio à beleza da cidade -  "They don't make cities like this!" -, à excelência da comida e ao lado genuíno e velho desta cidade milenar valem mais do que mil cosméticas para investidores que a nossa direita anda tanto a apregoar - fosse isto há um ano... - e que se há coisa que descreve a persona, a carreira, os programas e os livros de Anthony Bourdain é que o homem não tem contemplações no seu entusiasmo daquilo que gosta, não gosta, sente e pensa em relação a tudo isto aqui agora. Com custos para alguns vegetarianos, adeptos do politicamente correcto, operadores de "luxury travel", entre outros, aos quais parece que acabou de entrar alguma da direita portuguesa.

Deixemos-nos de tretas. Estivessem eles tão preocupados com o que Bourdain quis mostrar de Lisboa e teriam certamente  dado conta do sucesso esmagador dos Dead Combo pós "No Reservations" com três álbuns (três) no top 10 do iTunes conseguidos uma semana após o programa estar no ar. Se isto não é esmagador acerca do sucesso de um produto não sei bem o que é esmagador, nem o que é um sucesso, nem o que é um produto...O que eles queriam sei eu. O que não queriam também: António Lobo Antunes a falar da miséria e do desemprego, as verdades incómodas saídas ao longo de todo o programa acerca da austeridade, da crise, da Troika, da Grécia, com figuras dispares - agora baptizadas "Tugas da Choldra" - desde os Dead Combo aos cozinheiros Henrique Sá Pessoa, José Avillez, passando por Zé Diogo Quintela ou Tozé Brito, em conversas despretensiosas que dizem mais sobre nós do que todos os Prós & Contras que me lembro de ter visto. 
Também não queriam toda a conversa à volta das criminosas politicas da UE em relação à agricultura,  pescas, venda de alimentos...O lado taxativo de Bourdain - "that's the EU thinking", "you've got everything here", etc, etc -  deve lhes ter caído um pouco mal no seu quê de, vá-lá, instinto de rebelião. Que lá fora é muito cool, cá dentro, respeitinho...

Esperava-os mais inteligentes*. Ou ao menos que não se denunciassem daquela maneira. Pena que o programa esteja estupendo. Se não gostam embrulhem, engulam, aguentem, esperneiem. Façam o que muito bem entenderem. Poupem-nos é a um espectáculo que se chamo aqui de provinciano e  saloio é apenas para me poupar nos adjectivos.