quinta-feira, 22 de março de 2012

O grande Conrad


O Joseph Conrad disciplinado, civilizado, polido, exímio no seu inglês, é também uma máscara. Perto da natureza selvagem é tudo mais livre e aterrador. A escrita em Conrad talvez funcionasse como um porto de abrigo, um ancoradouro inevitável perante o talento e genialidade e experiência e sofrimento acumulados. Joseph Conrad primeiro viveu para contar, depois escreveu para contar. Nele o escrever e o viver encontram-se de tal forma emaranhados, entrelaçam-se com tal força e profundidade que é incontornável que ambos se confunda. Um pouco como as árvores de troncos e raízes gigantescas das selvas e florestas inexploradas onde Conrad testou, em alguns livros, os limites do Ocidente. Talvez as raízes estivessem na experiência precoce e traumática de quase orfão fugitivo à sua Polónia invadida pela Rússia, talvez suas ramificações sejam combinados de memórias, testemunhos e imaginação. Muito poucos testemunharam ou puderam testemunhar tanto. Num mundo de aventura e perigo que acabou para sempre, um reservatório de vivências que não merecem o esquecimento, de pensamentos no fio da navalha, de sentimentos em suas mais obscuras contradições. Sob uma paleta literária absolutamente hipnótica.