sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Haja saúde

Campo de Ourique, você é de Campo de Ourique? Sou. Tive lá um restaurante, muitos anos. Estou a reconhecê-lo, respondi. Campo de Ourique já não é o que era, antigamente era muito melhor. Anuí e reforcei: agora quando se diz que se é de Campo de Ourique soa logo a coisa bem. E enquanto eu pensava em tias a apinhar cafés, ele continuou a repetir, antigamente era muito melhor...
O taxímetro já ia em mais de sete euros mas ninguém se arrepende disso quando tem um joelho desfeito. E quem diria que passados uns 15 anos apanharia num taxi o dono daquele restaurante ao Jardim da Parada. Junto ao clube dos que largaram o café, dos engenheiros desempregados aos 50, dos reformados à mingua, dos antigos trabalhadores da Lisnave, e mais umas quantas histórias complicadas.
No Marquês retoma a conversa, eu agora daqui a 4 anos reformo-me e vou seis meses para o Brasil, não faço mais nada, só praia. Pois faz muito bem. Faço muito bem? Olhe meu amigo, eu trabalho desde 1964...Silêncio, rotunda percorrida e logo subimos a Bramcaamp, viro a cara para o prédio de José Sócrates, mas foi de Passos Coelho que ele falou. Com alguma distância, que quatro anos passam num instante. Foi rápido até me largar. Quanto é? Nove euros. Então faça 10. Muito obrigado, juntou a nota numa caixa e daí se virou, simpático e ternamente enrugado - olhe, muita saúde, o que é preciso na vida é ter saúde, o resto...Eu não peço mais nada na vida a não ser saúde. Não, engano-me, há mais uma coisa que peço...Calou-se para eu perguntar o que era. E respondeu: mulheres, mulheres, com isso...Com mulheres e com saúde eu vou a todo o lado...Saúde, mulheres e não peço mais nada. Era agora outro homem por trás do bigode.