"Foi
durante o período da Colectivização que a delação deu o grande
salto em frente. Nas aldeias os camponeses mais pobres eram incitados
a denunciar os mais ricos. “Era tão fácil meter um homem dentro!
Explica Grossman. “Escrevia-se uma denúncia, nem sequer era
preciso assinar”: Pelos meados dos anos trinta, quando o terror se
voltou para as vilas e cidades, a denúncia era louvada na imprensa
como “dever sagrado de todo o bolchevique seja ou não membro do
Partido”.
Pode-se
denunciar alguém por medo de que essa pessoa nos denuncie; pode-se
ser denunciado por não denunciar o bastante; o único desincentivo à
denúncia era a possibilidade de ser denunciado por não ter
denunciado primeiro;"
"Se,
como é corrente dizer-se, o poder é uma droga; então há casos em
que a droga deixa de dar efeito a não ser que se aumente a dose –
no caso exponencialmente. Para Estaline, o poder era coisa dos
sentidos e das membranas. E ele procurava invariavelmente o limite
superior. A Colectivização terminou quando os camponeses foram
todos colectivizados. O Terror-Fome terminou quando já não restava
ninguém para semear a colheita seguinte. O gulag continuou a
expandir-se até parecer que ia rebentar. O Terror prosseguiu até
mesmo as prisões temporárias, as escolas e as igrejas estarem todas
cheias e os tribunais em funções vinte e quatro horas por dia."
"Toda
a gente sabe de Auschwitz e Belsen. Ninguém sabe de Vorkuta e
Solovetski.
Toda
a gente sabe de Himmler e Eichman. Ninguém sabe de Iejov e
Dzerjiinski.
Toda
a gente sabe dos 6 milhões do Holocausto. Ninguém sabe dos 6
milhões do Terror-Fome."
Martin Amis, Koba o Terrível [Lisboa: Teorema; tradução de Telma Costa; 2003]
Fica uma amostra do excelente Koba o Terrível de Martin Amis que li dum trago (bem amargo). Para muitos que não conheçam ou tenham lido nada sobre o período
1917-1953, tal horror talvez não passe duma estatística (*). Há aspectos em que Estaline conseguiu ir tão longe como Hitler, não os reproduzo aqui. Mais: é quase unânime entre historiadores que tivesse Estaline vivido mais um ano e também os judeus na URSS teriam sido exterminados. De castigo já tinham morrido 5 milhões de ucranianos. Estatísticas.
(*) - "A morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões, uma estatística." (Estaline)