terça-feira, 12 de julho de 2011

Lisboa - Cascais




Ao avançar na viagem de comboio reparo que o percurso continua esplêndido como dantes, à beira-rio temos beleza, ordem e progresso, Lisboa é uma cidade fascinante para quem pode, mas também para quem quer. Mesmo em frente um grupo de turistas delicia-se com a perspectiva, passamos pelas docas e debaixo da ponte, depois Jerónimos, CCB e Torre de Belém, passamos pela desmontagem do palco do Festival Optimus Alive, na zona Cruz Quebrada-Caxias vislumbramos a saída do mar com a ilha do Farol do Bugio. Vejo uma funda ironia no olhar do turista germanófilo. Talvez não passe de presunção, talvez não seja nem sequer alemão, pode até ser israelita, ou inglês, ou dinamarquês, ou ucraniano por exemplo. Mas sou um julgador de hábitos e o hábito faz o monge. Tento mas entendo que língua falam, não consigo, é o barulho da carruagem, são as conversas que se acentuam de gente para as praias da linha, são as quatro filas de cadeiras a distanciar-nos. Vou lendo Machado de Assis e as suas “Memórias Póstumas de Brás Cubas” a cultivarem humor directamente do além, antigas e cheias de estilo. Apetece-me perguntar ao escritor brasileiro que tal isto aqui agora. Iria-me responder concerteza num saber cómico fulminante-mente literário, o que nem imagino o que fosse. Talvez me fulminasse, já estou para tudo. 
Entretanto acabou de entrar um enxame de gente em Oeiras, desafortunadamente passei a ter uma senhora muito gorda sentada a meu lado, e o grupo de turistas, germanófilo ou não, sai mesmo aqui e já não vai para o Estoril ou Cascais. Eu perco a graça à leitura. Com o comboio à pinha e a berraria circundante terei 15 minutos muito longos até chegar ao meu destino. Agora sim, sinto que me levantei às cinco e meia da manhã…