Photo-illustration by Sean McCabe.
(Photo: Adam Nadel/Polaris)
Narrando, temos de dar o flanco ao personagem - ouvi-lo, deixá-lo agir, existir, errar, ser ele próprio, mudar, aperfeiçoar-se, aprender, em suma, ser um ser humano - sob pena de ficarmos reféns da nossa ideia inicial criadora. Assim Deus nos terá feito - entregues apenas a nós próprios e ao puro acaso (mesmo o que não acontece por acaso). Ou na melhor das hipóteses, às suas tentativas no aperfeiçoar a Obra. Ele que tem ou pode ter as melhores das intenções mas pouco pode ou deve poder face ao desenrolar da trama. É que também Ele é ou pode ser refém do mistério. Que também nele as imagens se projectam. E comandam as leis da física. Gravidades. Erros. Contradições. Mais um diabo a sabotar o caminho. E, quem sabe, possíveis deuses de outros mundos. Impossíveis de todo aqui. São doutro livro.