sábado, 4 de dezembro de 2010

Nada é nada ainda



Andei a adiar a vida e a confiar na sorte. Na sorte da segurança. Uma gaiola bonita, aberta, com várias perspectivas de vista. E uma porta para sair, apanhar ar e regressar. Ponto de apoio, de sobrevivências, do gozo de viver, dos livros, dos PC's, filmes, de estaminés, de sofá. Mas ainda assim, uma metáfora de uma gaiola. O medo do falhanço, do aniquilamento, do logro. De animais de rapina maiores ou talvez não. A falta de confiança, o excesso de confiança, o regresso à gaiola. Depois o tempo urge o tempo. E tudo continua na mesma: nada parece o que é.
Penso num poema ZEN onde se fala na montanha que deixa de ser montanha para no final voltar a ser "a montanha". Procuro esse poema. Não o encontro. Talvez o traga o tempo, porque na verdade não há montanha ainda. Ainda. Ou talvez nunca. A minha Lisboa é que é ainda e cada vez a Lisboa dos "serões habituais, as conversas sempre iguais, os horóscopos e os signos ascendentes...": campo de batalha, cidade de pouco e de nada; gare de partidas e chegadas onde se pode ver o rio e beber uma cerveja...
Agora estou na varanda e por cima da ponte o céu combina com um avião em rota de aterragem. O Tejo segue o seu curso. Ainda nada é nada ainda.