quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Mad Men




Parece-me redundante dizer que tudo em "Mad Men" é trabalhado ao mais ínfimo pormenor: o plot, os actores, a fotografia, a realização (cinematográfica), o guarda-roupa, sobretudo os diálogos - cortados ao osso, muitas vezes em tons de pura comédia, mesmo nos assuntos mais graves, abrindo caminhos com extremo vigor narrativo, surpreendendo-nos por vezes com as suas segundas e terceiras intenções...
O mais interessante porém, para além da acção, é o caldo cultural onde "Mad Men" existe. As temáticas do machismo, do sexismo, a emancipação da mulher, o sonho americano, os corporativismos vários, o anti-semitismo, a Guerra Fria, o racismo, em suma, todo um tabuleiro cultural que abre a década 60. É politicamente incorrecto, mas ao mesmo tempo refrescante ver ali aqueles personagens todo o dia a fumarem e a beber como se não houvesse amanhã. O individualismo é o mote, o único ponto comum entre tudo, ninguém ali joga em conjunto se não for do seu próprio interesse. O individuo é que conta, na sua relação com um mundo predador onde tem de caçar, para não ser ele mesmo a presa. No big deal. É por aqui que se abrem as brechas da acção e todas as suas possibilidades. Não são feitos julgamentos. As coisas ficam a pairar e não têm de ser necessariamente objectivas. O criador Matthew Weiner e demais equipa não tentam ser moralistas. Limitam-se sim a explorar todas as potencialidades de um meio que é neste momento muito mais rico e estimulante que a esmagadora maioria do cinema. O que mais interessa  em "Mad Men" é a excelência da forma. O estilo. E "Mad Men" tem muito estilo, é top notch.
O protagonista mor, o inesquecível Don Draper, é a base e o topo. É ele que acompanhamos dia e noite. É ele que tentamos compreender no seu mistério, muito para lá do imaginável naquele mundo de aparências. Também porque ele próprio é uma aparência. E vendo bem, tem toda a legitimidade para ser quem é na vida e no topo da Sterling Cooper. Quem não conheça a série, não pode ter  bem a noção do que acabei de escrever. Porque além de todo o recheio a acompanhar, não sabe o que é verdadeiramente o bolo...